quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Regresso às aulas: 20% das crianças têm problemas de visão que interferem com o rendimento escolar

Erros refrativos, estrabismo e ambliopia são as doenças que afetam os mais novos. Cerca de 20% das crianças em idade escolar têm algum défice da função visual capaz de interferir com o rendimento escolar.



Agora que se aproxima o início do ano letivo, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia alerta para a importância da deteção precoce dos problemas visuais das crianças através de rastreios que devem ser feitos, pelo menos, a partir dos 3/4 anos.

Paulo Vale, coordenador do Grupo de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo da SPO, afirma que “as doenças dos olhos que mais afetam as crianças são os erros refrativos (miopia, hipermetropia e astigmatismo), a ambliopia e o estrabismo. Estima-se que cerca de 20% das crianças em idade escolar tenham algum défice de função visual provocado por uma destas patologias (ou outras menos frequentes)”.

Um dos sinais mais habituais de problemas na visão, é, segundo Paulo Vale “a dificuldade na leitura. Embora algumas crianças se queixem da sua dificuldade, muitas não o fazem, pelo que deve ser o educador (pais ou professor) a estar atento. A lentidão ou rejeição das tarefas que exigem esforço visual, o fechar ou tapar um dos olhos e os erros a copiar do quadro são sinais de alerta. Dores de cabeça, náuseas, olhos vermelhos, inchados ou lacrimejantes, estrabismo e fotofobia (dificuldade em suportar a luz) são sintomas que não podem ser ignorados e devem levar os pais a procurar um oftalmologista. Mas há crianças que não têm qualquer queixa, particularmente aquelas em que apenas um dos olhos vê mal, como é o caso dos pequenos estrabismos e das anisometropias (diferença de graduação entre os olhos) ”.

Assim, o especialista refere que é fundamental “realizar um primeiro rastreio por volta dos 3/4 anos, pois nesta idade já é possível contar com a colaboração da criança e o procedimento acaba por ter uma boa relação preço-eficácia. No entanto, o ideal é realizar um rastreio entre os 12 e os 18 meses, que permite detetar e corrigir fatores ambiogénicos e que só pode ser realizado por oftalmologistas”.

A forma como a utilização de computadores e outros dispositivos eletrónicos podem influenciar a função visual é uma questão que preocupa muitos pais. Paulo Vale explica que “não existem estudos científicos que comprovem a ideia de que os computadores em si provocam e/ou aumentam a miopia. Mas é provável que um número exagerado de horas a ler, ou ao computador, ou seja, exercitando prolongadamente a visão de perto, possa constituir um factor ambiental suscetível de fazer despertar genes ligados à miopia. Para além disso, há ainda o cansaço visual sentido após o uso prolongado e ininterrupto destes dispositivos eletrónicos. Por esses motivos se recomenda que a sua utilização moderada seja alternada com períodos de descanso”.

Para promover a saúde visual, o especialista em oftalmologia pediátrica recomenda que os pais e educadores “providenciem a iluminação, cadeira e secretária adequadas para tarefas de leitura, corrigindo posições erradas (como ler deitado de barriga para baixo) e certificando-se de que a distância de leitura é de 30 a 40 cm. É fundamental também a realização de pausas e verificar a posição dos monitores do computador e da televisão, evitando reflexos. No computador os olhos devem estar a um nível superior (15 a 20º) do centro do monitor e a distância da televisão deve ser cinco vezes a largura do ecrã”.

Paulo Vale deixa um alerta final, relativo à prevenção de traumatismos oculares. “A prática de atividades com laser ou jogos que coloquem em risco a integridade do aparelho visual deve ser impedida ou realizada com protetores de qualidade”.

Paulo Torres, presidente da SPO, afirma que “é na infância que se devem prevenir e tratar muitos problemas de saúde que podem revelar-se graves na idade adulta. As doenças oftalmológicas não são exceção, pelo que recomendamos a todos os pais e educadores que estejam atentos, realizem rastreios visuais o mais cedo possível e, em casa, promovam a saúde visual dos mais novos”.

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