A atual vaga de emigração poderá servir de «válvula de escape» para a crise mas também poderá causar «graves problemas» para a evolução futura da economia, segundo vários economistas consultados pela Lusa.
Não há números exatos para a emigração nos últimos anos, mas é consensual que o fluxo de portugueses para o estrangeiro está a ser muito significativo.
O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, estimou recentemente que entre 100 mil a 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
Ora, quais são as consequências para a economia de um país que perde 1% dos seus habitantes por ano? O primeiro economista a debruçar-se especificamente sobre este tema foi o atual ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
Em 2010, Santos Pereira (então professor universitário em Vancouver, no Canadá) publicou um livro onde questionava os números oficiais sobre as saídas de portugueses para o estrangeiro.
Segundo Santos Pereira, ainda antes da agudização da crise económica já estava em curso uma vaga de emigração só comparável à dos anos 1960 e 70: pelos números do atual ministro, 700 mil portugueses emigraram entre 1998 e 2008.
«A questão dos novos fluxos de emigração não está a ser tomada em conta pelo Governo português e terá um efeito grave», disse Santos Pereira ainda em 2010. O agora responsável pela pasta do Emprego no Governo alertava para os efeitos da emigração sobre a sustentabilidade da Segurança Social, e para os riscos da «fuga de cérebros».
«Portugal é o segundo país da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior fuga de cérebros, a seguir à Irlanda», disse.
O economista João Ferreira do Amaral vê um «problema muito grande para o futuro» nesta vaga de emigração: o envelhecimento da população.
«Os que ficam são os mais velhos. Isto é problemático para o futuro do Estado social», afirmou.
Há, contudo, opiniões diferentes sobre os impactos da emigração: «Todos os estudos sobre a emigração mostram que toda a gente ganha com ela ¿ o país de onde se emigra, o país que recebe e, normalmente, a pessoa que emigra também», disse João César das Neves, professor na Universidade Católica. «É dos poucos consensos que temos na análise económica».
César das Neves recorda os «enormes custos pessoais e humanos» da emigração, mas garante que o fluxo para o estrangeiro funciona como uma «válvula de escape» em tempos de crise.
O economista rejeita que a emigração ponha em risco a sustentabilidade da Segurança Social: «O envelhecimento da população é um fenómeno estrutural, não tem nada a ver com isto. O problema fundamental é não termos filhos».
César das Neves considera também que a saída de uma geração qualificada não é necessariamente grave: «São pessoas sem emprego em Portugal. Quando encontramos oportunidades para elas, regressarão. Não é coisa com que devamos estar preocupados».
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, discorda totalmente desta visão: «Portugal não se reformou nem se desenvolveu mais [nos anos 1960 e 70] precisamente porque conseguia exportar mão-de-obra».
Cardoso nota ainda que, ao contrário da vaga de emigração anterior, «o emprego que agora emigra é qualificado», lamentando que se tenha «investido na educação destas pessoas e agora elas veem-se obrigadas a procurar emprego noutro país».
Fonte: Agência Lusa
Não há números exatos para a emigração nos últimos anos, mas é consensual que o fluxo de portugueses para o estrangeiro está a ser muito significativo.
O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, estimou recentemente que entre 100 mil a 120 mil portugueses abandonaram o país em 2011, e que o número poderá ter aumentado este ano. Este número é muito significativo num país com uma população como Portugal: 1% da população.
Ora, quais são as consequências para a economia de um país que perde 1% dos seus habitantes por ano? O primeiro economista a debruçar-se especificamente sobre este tema foi o atual ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira.
Em 2010, Santos Pereira (então professor universitário em Vancouver, no Canadá) publicou um livro onde questionava os números oficiais sobre as saídas de portugueses para o estrangeiro.
Segundo Santos Pereira, ainda antes da agudização da crise económica já estava em curso uma vaga de emigração só comparável à dos anos 1960 e 70: pelos números do atual ministro, 700 mil portugueses emigraram entre 1998 e 2008.
«A questão dos novos fluxos de emigração não está a ser tomada em conta pelo Governo português e terá um efeito grave», disse Santos Pereira ainda em 2010. O agora responsável pela pasta do Emprego no Governo alertava para os efeitos da emigração sobre a sustentabilidade da Segurança Social, e para os riscos da «fuga de cérebros».
«Portugal é o segundo país da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior fuga de cérebros, a seguir à Irlanda», disse.
O economista João Ferreira do Amaral vê um «problema muito grande para o futuro» nesta vaga de emigração: o envelhecimento da população.
«Os que ficam são os mais velhos. Isto é problemático para o futuro do Estado social», afirmou.
Há, contudo, opiniões diferentes sobre os impactos da emigração: «Todos os estudos sobre a emigração mostram que toda a gente ganha com ela ¿ o país de onde se emigra, o país que recebe e, normalmente, a pessoa que emigra também», disse João César das Neves, professor na Universidade Católica. «É dos poucos consensos que temos na análise económica».
César das Neves recorda os «enormes custos pessoais e humanos» da emigração, mas garante que o fluxo para o estrangeiro funciona como uma «válvula de escape» em tempos de crise.
O economista rejeita que a emigração ponha em risco a sustentabilidade da Segurança Social: «O envelhecimento da população é um fenómeno estrutural, não tem nada a ver com isto. O problema fundamental é não termos filhos».
César das Neves considera também que a saída de uma geração qualificada não é necessariamente grave: «São pessoas sem emprego em Portugal. Quando encontramos oportunidades para elas, regressarão. Não é coisa com que devamos estar preocupados».
Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, discorda totalmente desta visão: «Portugal não se reformou nem se desenvolveu mais [nos anos 1960 e 70] precisamente porque conseguia exportar mão-de-obra».
Cardoso nota ainda que, ao contrário da vaga de emigração anterior, «o emprego que agora emigra é qualificado», lamentando que se tenha «investido na educação destas pessoas e agora elas veem-se obrigadas a procurar emprego noutro país».
Fonte: Agência Lusa
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